queria um café e um copo de água   Leave a comment

– Queria? Já não quer? Sai um copo com água!

Quase que aposto que isto vem escrito no Manual de Boas Práticas do Empregado de Café. Empregado que não diga isto aos clientes, não é credível, vê-se logo que não nasceu para aquela profissão. Tempos houve em que eu tinha teorias mais rebuscadas. Quase que lhes ouvia os pensamentos “Vêm para aqui todos emproados e nem sabem falar português! Toma que já almoçaste!” Era por vingança, de certeza… Hoje, estou-me nas tintas e as minhas idas ao café são o paraíso.

Mas eles não têm razão! Basta ir a uma gramática para ficarmos a saber que o imperfeito do indicativo tem “um valor fundamental: o de designar um facto passado mas não concluído”. (O argumento do “Queria? Já não quer?” vai abaixo logo aqui, mas há mais…) Seguem-se exemplos de utilização, um dos quais é o “imperfeito de cortesia”, em que o imperfeito substitui o  presente “para atenuar uma afirmação ou um pedido”.
Ou seja, em vez de um autoritário “Quero um pastel de nata” (que subentende que o empregado é um servo da gleba ao nosso dispor), usamos um polido “Queria um pastel de nata” (se fizer favor, longe de mim a ideia de lhe dar ordens). Mas, pronto, eles não gostam…

Há ainda o problemazinho do copo com água, que curiosamente não se põe se for um copo de vinho ou de leite (alguém alguma vez ouviu “sai um copo com vinho” ou “sai um copo com leite”? nunca…).
Noutros tempos, mais belicistas, costumava responder com “Olhe, é só para tomar um comprimido. Basta meio copo com água” (eheheh, vingança!)
Bem, traduzindo por miúdos, um garrafão de vinho, uma garrafa de azeite, um pacote de arroz, um copo de água designam a quantidade que pretendemos desses produtos e subentende por isso que pretendemos o garrafão cheio de vinho, e não com algum vinho, o pacote cheio de arroz, e não com arroz, etc.
É verdade que estes substantivos são especiais de corrida, porque não são contáveis. 3 couves são contáveis, identificáveis em unidades. Arroz, água, farinha, azeite ou areia, não, porque não os contamos (1 areia, 2 areias, 3 areias… só se forem de Cascais!)

Posted 2011/02/06 by pfungst in Uncategorized

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