Ortografia estapafúrdia (o caso mostrengo)   2 comments

Qualquer dicionário remete monstrengo para mostrengo, apesar de ser uma palavra formada a partir do latim monstrum, que tem lá um “n” que está em todas as palavras desta família: monstro, monstruoso, monstruosidade, etc. E sinceramente só vejo uma razão para esta palavra completamente mal formada:

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”

E lá porque o Fernando Pessoa escreveu mal uma palavra temos que ficar com este ” mostro”?

Posted 2011/08/17 by pfungst in Uncategorized

ortografia estapafúrdia (nível avançado)   Leave a comment

Nível avançado? Pois é, a maior parte das pessoas (digo eu, não é nenhum estudo científico) não sabe qual é a sílaba tónica numa palavra que tenha duas vogais abertas (como hotel, álcool, orvalho) porque associam a vogal aberta à sílaba tónica. E claro que quando o fazem estão a pensar bem (explico depois). Mas o que interessa é que a sílaba tónica é a mais forte (o que faz a diferença entre blico e publico).

E é por isso que dióspiro e tex (grafia que aparece nos dicionários) não fazem nenhum sentido e diospiro e latex fazem.

Posted 2011/08/17 by pfungst in Uncategorized

Ortografia estapafúrdia   1 comment

Se há coisas que me enervam, uma é a ditadura dos dicionários em relação à correcta ortografia das palavras (mesmo que não sigam as regras da ortografia). Hoje tinha um autor a pôr em causa uma correcção minha num texto. Achava ele que “olisipógrafo” se escrevia com dois “ss” e não com um. Dou-lhe inteira razão, o som é “ç”, não é “z”. E escrito só com um “s”, lê-se olizipógrafo, porque o “s” está entre vogais. Mas o que é que eu hei-de fazer? Os dicionários ditam que seja “olisipógrafo”, apesar de não vivermos em Lizboa.

Posted 2011/08/16 by pfungst in Uncategorized

sinalética   4 comments

O sinal abriu, o táxi atrás de mim já buzinou, o carro à minha frente avançou e sigo em frente. Ei, este sinal é novo! Proibido circular? Ah, se calhar posso, mas… O que é pré-Euro 1 veic. anter. a Julho 92? Ãh? Resid. transp. públicos veículos históricos? (ok… isto é uma lata, mas histórico, histórico, acho que não… o que é um veículo histórico? Carro de bois?) – Pára de buzinar, fogareiro! Bem, vou em frente, que se lixe!

Suponho que a razão para os sinais de trânsito serem basicamente gráficos é podermos percebê-los com um simples olhar. Mas se têm mesmo de ter qualquer coisa escrita não devia ser preciso ter um pós-Doc em Criptologia para os perceber. Em vez de
“pré-Euro 1
veic. anter. a Julho/92”

seria assim muito difícil escrever ali
“Veículos de matrícula
anterior a Julho 92”?

Poderia pensar-se “tiveram que abreviar, as palavras não cabiam inteiras”, mas nem isso é verdade. Escrito por extenso ocupa menos caracteres por linha! E é infinitamente mais compreensível.


Posted 2011/08/14 by pfungst in Uncategorized

Batatas coenguias e outras bizarrias II   Leave a comment

As batatas coenguias tiveram imenso sucesso aqui no Pontos nos Tês. Comentários nem por isso, mas não admira, porque o WordPress é um feroz inimigo do comentador. Mas recebi por outras vias alguns belíssimos contributos. Ei-los:
“Ele foi absolvido com pena dispensa”
“Faço colecção de várias coisas, até faço colecção de coletes retransmissores”
“Este Verão tá assim por causa do antigo ciclone dos Açores”
“Fui ali à carrinha fazer um rastreio audiovisual”
“Um amigo meu com 25 anos deu-lhe uma úrsula”
“Ela tem muitos problemas com o filho, a psicóloga disse que o miúdo é interactivo”

A minha hipótese anterior era de que quando uma pessoa ouve uma palavra que não conhece a substitui por outra que conhece, ou por uma palavra que talvez fosse possível existir. Nestes exemplos há dois casos com contornos um bocado diferentes. As pessoas substituem as palavras que não conhecem por outras, cujo significado também desconhecem, mas com que são diariamente bombardeadas (audiovisual, interactivo, em vez de visual e hiperactivo).

Posted 2011/08/14 by pfungst in Uncategorized

rôti de cabillaud seront coriandre   Leave a comment

Uma lista de restaurante absolutamente única! Tinha na memória outra, que tinha “Steak of the empty” e só me lembro de me rebolar a rir a pensar no que um estrangeiro conseguiria imaginar com um nome destes. As traduções são em geral muuuuito criativas (uma outra, no menu vegetariano, tinha “Salad of the head of the chef with assaulted vegetables”, uma salada do dia, saída da cebeça do chef, de vegetais variados). Em Sines, numa marisqueira, encontrei entre os vários mariscos “Shoe case”… Mas esta lista tem a característica de traduzir preposições por verbos, e eu adorava perceber porquê, mas não consegui.

Steak à Stone, Steak fera Lusitania, Lapin en brasa va Zinga…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Febras of Pork will Angolan, Small Steaks Pig will Guilho…

E não me perguntem o que é Zinga, só sei que não é o nome do restaurante…

Posted 2011/03/22 by pfungst in Uncategorized

carne com sabor a “carne”   Leave a comment

Dizer que um salpicão de lombo de porco bísaro sabe a carne já me parece um bocado redundante, uma vez que não se costuma ir pescá-los em alto mar nem colhê-los na horta. Mas um salpicão que sabe a “carne” deixa-me baralhada… O que é que aquelas aspas estão ali a fazer?

Posted 2011/03/07 by pfungst in Uncategorized

Concentrado de gralhas   1 comment

Está pendurado nas barreiras em volta do edifício Vitória, que está em recuperação, na Avenida da Liberdade. Quando vi a primeira, olhei melhor, à segunda, arregalei os olhos, à terceira tive que os esfregar. Seria verdade?

Há boas e más notícias: a pessoa que fez isto sabe usar um processador de texto e sabe pôr a imprimir; agora é só aprender a usar o corrector ortográfico… Chiça! Isto até faz doer os olhos…

(Suponho que a origem de encomo seja incómodo >> encómodo >> emcómo >> encomo… será?)

Posted 2011/02/26 by pfungst in Uncategorized

batatas coenguias e outras bizarrias   Leave a comment

Por causa do Pontos nos Tês, descobri que lá em casa fomos uns irmãos cheios de criatividade linguística desde a mais tenra idade. Para a minha irmã, por exemplo, havia umas batatas, as batatas coenguias, que deviam certamente ser deliciosas, pela forma como toda a gente se referia a elas “Querias, querias, batatas coenguias!”.
Para outro meu irmão, uma pessoa mesmo chata era “chata como a putaça”, e uma coisa muito, muito difícil, havia de se conseguir fazer, “nem cavar com a tuça”! (uma vaca a tossir poderá ser estranho, mas cavar com os dentes, mostra um empenho digno de nota)
Eu achava estranho o anúncio dos rebuçados Dr. Bayard, “rebuçados que mal têm mel” (rebuçados com alteia e mel)… “Mas o mel não é bom para a tosse?”, pensava eu, intrigada.

Portanto, quando não percebemos uma palavra ou uma expressão, é o vale tudo. Os nossos cerebrozinhos agarram naquela cadeia incompreensível de sons e toca de os rearranjar, de maneira a usarem palavras que já conhecemos ou que, pelo menos, achamos que podem existir (uma puta, com o aumentativo -aça, tem ar de ser uma coisa chata e umas batatas de Coenga, embora eu não saiba onde fica essa terra, hão-de ser coenguias…).

E deve ser esta a razão para frases como as que um outro meu irmão ouve por esses cafés e me manda:
– Não, este jogo não é em directo, é transferido.
ou
– Queria meio Curtissar, por favor.
(De Cutty Sark a Curtissar vai um bocadinho, mas talvez seja um Sar curto, sei lá…)

Claro que, com palavras estrangeiras, o problema tende a ser muito mais bicudo. Ainda me lembro de uma colega de 7º ano que, depois de sairmos de uma aula de inglês em que aprendemos palavras como ceiling, floor, door, window, estava radiante:
– Pois! Agora já sei como é aquela música! “Ceilings, nothing more than ceeeeiliiings…

Posted 2011/02/16 by pfungst in Uncategorized

o diferencial… não é uma engrenagem que tem qlq coisa a ver com semi-eixos, ou assim?   Leave a comment

“Sabemos do diferencial de juros que existe entre aquilo que o Estado paga à banca e aquilo que a banca consegue do BCE”, diz José Gomes Ferreira, jornalista/comentador da SIC.

Isto não seria mais propriamente “a diferença de juros”? Diferencial é a palavra brasileira usada para esta acepção.

Posted 2011/02/16 by pfungst in Uncategorized